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nômades permanentes pesquisam e performam


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

OCCURSUS III - DEAMBULAÇÕES - FLORIANÓPOLIS

Postado por N3Ps às 18:07 Nenhum comentário:
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NÔMADES PERMANENTES PESQUISAM E PERFORMAM

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N3Ps
uma equação disjuntiva de conjunto, uma usina de produção desejante. Criado durante o percurso de docência de Clarissa Alcantara no Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (2007-2008) com Clóvis Domingos, Matheus Silva e Nicolas Lopes. O núcleo reúne performers-pesquisadores com propostas de pesquisas que se desenvolvem independentes e sobrepostas, predispostas aos deslocamentos, deslizamentos e às contaminações.
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ANTES: NÚCLEO PERMANENTE DE PESQUISA E PERFORMANCE

Núcleo de centro descentrado, de eixo deslocado, em permanente marcha e
acontecimento. Posições superpostas, justapostas em lugares movediços; linhas
desfocadas, borradas a confundir as fronteiras.
A arte é acidente.
Como provocá-la?


quarta-feira, 27 de agosto de 2003
“disseram: é preciso provocar
acidentes”, “como provocar acidentes?” – pergunta Fernando Scheibe – então, ocorre-me dizer a ele: sou eu mesma o acidente, sei-o bem, e me provoco e me
provo não sabendo – digo, sem que ele saiba que estou dizendo, ao menos por enquanto. É que tropeço (...). Sem método. Sim, “j’ai perdu le sens de le histoire” [dans] la folie du jour. Que faço eu aqui (...)? Sim, porque meu modus
é filosofante e sigo olhando, com certeza, aquelas teorias do fim da história, só para vivenciar, no íntimo, o contingente, a incerteza, a indeterminação, o
esquecimento, o transbordamento do dentro do fora.
[Objeto-tese, Teatro Desessência / Corpoemaprocesso – Diário êxtimo, 2005]


O Núcleo nasce
em Ouro Preto, Minas Gerais, em meados de 2007, de uma provocação implacável,
uma conexão sem hífen: corpoalíngua.

Resultado de um “Rol” [1]
de acontecimentos em “Ondas” [2], provocando transfiguração do espaço da sala de
aula – o espaço informe da criação teatral [3]. Clóvis Domingos, Matheus Silva,
Nicolas Lopes, Clarissa Alcantara, sentaram-se na pequena sala da Travessa
Domingos Vidal, no. 59, e, o Mal-estar da Civilização de Freud, pôs o desvio no
caminho.

Afectos:

[1] Performance “Rol” , espetáculo concebido por
Clóvis Domingos como Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Cênicas,
Bacharelado em Direção, e de Matheus Silva, Bacharelado em Interpretação, Curso
de Artes Cênicas, UFOP. Oito performers e o público (média de 60 pessoas),
misturadas a listas de roupas, desejos, medos, cansaços, marcas no corpo, no
tempo, na lista das histórias remexidas de cada um. A primeira lista foi de
Alice, mãe de Clóvis que, ainda menino, viola uma gaveta, um diário e encontra
poesia, decretos íntimos abruptamente interrompidos, pós-casamento, por um ROL
de roupas sujas à lavanderia. Alice inspira, Alice espelha o ROL de todos
nós.

[2] “Corpo embestado: entre As Ondas de Virgínia Woolf e a criação
performática”, pesquisa atualmente desenvolvida por Matheus Silva, desfiando a
fronteira entre literatura, teatro e performance. Matheus balbucia: “trazer este
pensamento enclausurado como a besta, esta de Virgínia, é sentir estas forças
contrárias. Uma voz que quer sair da subjetividade e vê-se em processo de ganhar
vazão através do corpo e o que está entre o pensar e o corpo, e que se torna
mais presente”.

[3] Nicolas Corres Lopes desenvolveu na disciplina de
Pesquisa de Linguagem a seguinte questão: “A Sala de Ensaio – O espaço informe
da criação teatral”, identificando a natureza dos espaços externos e internos na
sala de ensaio e no corpo do ator (sala-corpo / corpo-sala), suas conexões e
diferenças na construção de significados. O preenchimento do espaço vazio com
ideias. Os diferentes tipos de caos que uma sala pode apresentar.





CORPOALÍNGUA

um corpo coletivo que escapa às significações pré-moldadas da língua, que confunde a lógica do idêntico e cria uma lógica do sentido neutro, livre do sentido comum e da universalidade do sujeito. Indo mais longe que a fronteira do conhecido fundado pela linguagem, revira as formas de como pensar a vida e fazer arte. Pensar é um ato criador, a arte é viver ao extremo a criação, a invenção dos mundos. Nietzsche declara essa constituição fundamental do vivente: “O essencial do ser orgânico é uma nova interpretação do acontecimento: a pluralidade perspectivística interna que é, ela mesma, um acontecimento”.

ALÍNGUA (lalangue): conceito tratado por Jacques Lacan no registro psicanalítico para referir-se a uma língua que se fala à revelia do sujeito e que lhe fala. A noção de corpoalíngua faz referência a este conceito no sentido de desestratificar, confundir, equivocar. Corpo e língua não se desatam e se corrompem um ao outro – alíngua de um corpo sem órgãos dito falante.

ALÍNGUA, fala inconsciente que balbucia, gagueja, esquece, que impele a língua a um limite. Não está designada ou significada pelas palavras, nem é traduzida de uma palavra a outra. É antes o que há de "impossível" na linguagem (refiro-me, aqui, pontualmente ao que diz Deleuze) e que, por conseguinte, pertence tanto mais ao seu fora. "Ela devasta as designações, as significações, as traduções" para que a linguagem afronte o desconhecido, do outro lado de seu limite.

CORPOALÍNGUA, procedimento prático gerado no acontecimento performático, não visa uma consciência, uma segurança, uma confiança, um sentido, visa à matéria inconsciente, lugar que nos escapa, que nos faz perder o sentido e a "confiança" do controle. É acontecimento que desestabiliza, é espaço-tempo do tropeço, do erro, da falha, da falta. E já que a cultura está ligada à fala, e é por ela dominada, a intenção é exatamente sair do jugo da dominação da cultura, para dar-se puramente aos encontros.

DELEUZE. ABECEDÁRIO. DESEJO.


Nunca desejo algo sozinho, desejo bem mais, também não desejo um conjunto, desejo em um conjunto.

Mas um desejo é isso, é construir. Ora, cada um de nós passa seu tempo construindo, cada vez que alguém diz: desejo isso, quer dizer que ele está construindo um agenciamento, nada mais, o desejo não é nada mais.

O inconsciente não é um teatro, não é um lugar onde há Édipo e Hamlet que representam sempre suas cenas. Não é um teatro, é uma fábrica, é produção. O inconsciente produz. Não pára de produzir. Funciona como uma fábrica. É o contrário da visão psicanalítica do inconsciente como teatro, onde sempre se agita um Hamlet, ou um Édipo, ao infinito.

Desejo se estabelece sempre, constrói agenciamentos, se estabelece em agenciamentos, põe sempre em jogo vários fatores.


QUADROS 4 X 4

Compõem-se e decompõem-se quadros singulares: a história pessoal de cada um é reinventada à medida de intensidades provocadas. Corpos-sons-textos-imagens-objetos, lembranças e esquecimentos, tecem múltiplos planos na superfície deslizante da vivência performática.

Estão nascendo acácias dentro do meu peito febril

Estão nascendo acácias dentro do meu peito febril
Clóvis Domingos

Mariposa

Mariposa
Matheus Silva

Das coisas ridículas e patéticas

Das coisas ridículas e patéticas
Nícolas Corres Lopes

A história de uma mulher que tinha a impressão de nunca haver existido

A história de uma mulher que tinha a impressão de nunca haver existido
Clarissa Alcantara

CORPOALÍNGUA EM 4X4 - CONSIDERAÇÕES INTEMPESTIVAS


“Estamos sós e sem desculpas...”
Refaço a máxima (sartreana, me parece) que usei há vinte e um anos. Desfaço-me dela, rio-me, enfim, viro rio. Não estamos sós e como encontramos radiantes desculpas... “desculpas crônicas”, necessárias, criativas, desafiantes para suportar essa tamanha travessia.
Do acaso dos encontros, inventamos um núcleo, um centro descentrado, um eixo deslocado, uma permanente marcha que nos assegura um contra-giro. Desejamos o acontecimento! Nossas posições estão multiplicadas; lugares, tão privados, viram ilhas movediças, as linhas desfocadas borram os contornos. Estão confusos os limites entre o céu, a terra, o mar, entre o viver e o fazer arte, entre o sentir e o produzir desejo. Falamos coisas, misturamos coisas, perdemos os rumos, encontramos o inesperado, reinventamos o pequeno mundo, usamos corpos como almas; bebemos e nos embriagamos um do outro. Somos limiares de intensidade. “Occursus” é encontro e, no nosso caso, é rio em curso transverso.

A arte é acidente. Como provocá-la?

“J’ai perdu le sens de le histoire”... (eu perdi o sentido da história): isto agora é dito por Blanchot, sempre voltando, redizendo nunca o mesmo.
Misturam-se as línguas, misturam-se os ouvidos, misturam-se as bocas, falas, escutas, a história nos mistura.
Estamos no limiar de nossas intensidades pelo poder de sermos afetados. Idéias-afecções: “eu vivo ao acaso dos encontros”. Mas onde vai dar isto? “O que é um corpo?” “O que pode um corpo?”

Quatro por quatro, quatro quadros, quatro tempos, quatro histórias, quatro entre quatro paredes. A pergunta não é “como” e, sim, “com o quê”?

“O que é uma idéia e o que é um afeto?”

Só consigo pensar a performance como modo de uso filosofante. Por isso, em anexo, segue texto-chave de dois filósofos-chave, Deleuze-Spinosa. Para quê, por que? Para que, talvez, à revelia de cada um, abram-se portas, cadeados, porões, sótãos, voem telhados, não sobre uma parede se quer para contar qualquer história, enfim, queremos devir-acontecimento no instante de reinventar-nos.

Do espaço, dos materiais, dos equipamentos, temos o seguinte:

1) A sala 35, lugar de nossos primeiros encontros, estará vazia. Entenda-se vazia com as arquibancadas que lhe fazem cenário. Vamos mantê-las na entrada, como reza lá o costume. De que modo? Decidimos in loco.

2) A projeção do data-show cobrirá inteira a parede do fundo. Tenho um rolo de tecido branco (não sei precisar agora quantos metros) que pretendo pendurá-lo junto a esta parede, se possível em quatro tiras. Nada diferente do que se viu em minhas aulas, pura diferença no que se dá a ver agora.

3) Estamos de branco. Enfileirados diante do muro branco, com o rosto-pele-tecido branco. Foto 4x4 sem rosto.

4) Depois disto, como imagino que estejam imaginando, temos o espaço livre para nos apropriar de nossas pequenas ilhas, quartos, mundos.

5) De meu quarto nada sei, porque, lembram, sou a mulher que tem a impressão de nunca haver existido. Mas há o que nele se instala: teclado, computador, instrumento de percussão, máquina fotográfica, máquina de vídeo, aparelho de som, um televisor... máquinas, máquinas, máquinas, porque só me sei máquina desejante.

6) Dos outros quartos? Que se inscrevam aqui ______________.

7) Dos curtos-circuitos, ruídos, tropeços, cortes, fendas, faltas, alucinações, aberrações, esquecimentos, desaparecimentos, silêncios, sussurros, de todos os lamentos, de todos os fluxos esquizos desse mundo das intensidades, desejo ardentemente a beatitude imprevisível de nossos afetos-ativos.

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